Post by marcofreitas86 on Jul 22, 2009 2:03:00 GMT 1
Como definir a excelência destes senhores? funk/country/folk/rock/jazz/pop/world music… enfim nunca mais saía daqui, é que a salada é mais que russa, é uma autêntica mistura de sonoridades que apaixonam qualquer ouvinte logo às primeiras audições.
Todos nós falamos imenso de Dave Matthews Band como a nossa banda preferida, porém quando tentamos perceber a razão dessa escolha ficamos um pouco confusos e não sabemos explicar racionalmente porque é que gostamos da sua música, mais do que a de outra banda qualquer. Qual será a razão? Será da banda em si? Será a voz do David? Será devido a uma pseudo sonoridade peculiar? Se sim, como definir essa sonoridade?
Em busca de respostas decidi iniciar uma viagem pela carreira do grupo e fazer esta discografia comentada em 8 partes (uma para cada álbum da banda) de modo a poder chegar a conclusões no fim desta viagem. Este trabalho conta com o vosso contributo, através de comentários, preenchimento de algumas lacunas ou até mesmo para podermos refazer e formular um documento único que possa ser editado num futuro site de fãs português… quem sabe?
Em cada uma das partes adicionarei uma poll para podermos votar nas faixas preferidas do álbum em discussão.
REMEMBER TWO THINGS
Editado: 1993
Tempo total: 55:12
Editora: Bama Rags (1993-1997)
Relançada em 1997 pela RCA
Produtor: John Alagía
Faixas:
1. "Ants Marching" (ao vivo) — 6:08
2. "Tripping Billies" (ao vivo) — 4:49
3. "Recently" (ao vivo) — 8:42
4. "Satellite" (ao vivo) — 5:01
5. "One Sweet World" (ao vivo) — 5:18
6. "The Song That Jane Likes" (ao vivo) — 3:33
7. "Minarets" — 4:22
8. "Seek Up" — 7:20
9. "I'll Back You Up" (ao vivo acústico) — 4:26
10. "Christmas Song" (ao vivo acústico) — 5:34
Gravado em:
* Trax
Charlottesville, Virginia
* Flood Zone
Richmond, Virginia
* The Muse
Nantucket, Massachusetts
* Flat Five Studios
Salem, Virginia
“Remember two things” é um dos primeiros registos oficiais de Dave Matthews Band e serve como uma introdução perfeita a toda uma carreira que dura dezasseis anos (2009). Este trabalho de baixo custo foi lançado por uma editora independente e inclui duas faixas gravadas em estúdio com a banda completa; faixas gravadas ao vivo; bem como faixas acústicas tocadas por Dave Matthews com o seu amigo Tim Reynolds. Deste modo é curioso notar que nestes 55 minutos de música temos o prólogo perfeito para as várias facetas da carreira de Dave Matthews e a sua banda, contando actualmente com 8 álbuns de estúdio, incontáveis gravações ao vivo com a banda bem como em dueto com o seu amigo Tim Reynolds.
Não me vou desdobrar em descrições exaustivas sobre todas as músicas, primeiro porque muitas delas foram editadas posteriormente em álbuns de estúdio, depois porque sendo na sua maioria uma gravação ao vivo (8 das 10 faixas) não poderei desenvolver questões de produção. Por outro lado considero essencial constatar que desde o inicio este grupo tem como principal alicerce a performance ao vivo e isso é bem visível na qualidade patente neste disco. Muitas destas actuações ao vivo apresentam versões embrionárias de canções que posteriormente se tornaram autênticos hinos da banda. Outras faixas surgem já no formato em que ficaram conhecidas, como o exemplo de “Tripping Billies” que apesar de só ser lançada no segundo álbum da banda “Crash”, é apresentada aqui quase igual à “versão final” de estúdio (com aspas porque as canções de Dave Matthews Band estão em constante mutação em performances ao vivo, ou seja a ideia de uma “versão final” quase nunca se concretiza).
“Recently” é uma faixa muito interessante que acabou por ser gravada no EP homónimo lançado no ano seguinte. Aqui encontramos uma das características predominantes da composição da banda - o famoso pizzicato no violino de Boyd Tinsley (técnica de tocar com os dedos nas cordas do violino e cujo resultado sonoro consiste num beliscar momentâneo de uma nota, sem que esta se prolongue). Posteriormente esta característica se torna dominante em faixas como “Warehouse” ou “American Baby”.
As faixas "One Sweet World" e "The Song That Jane Likes" são outras constantes nos concertos da banda, apesar de não serem das mais interessantes no contexto deste primeiro registo (mas continuo a achar que Jane, irmã de Dave Matthews tem bom gosto).
Uma outra característica interessante da composição de Dave Matthews Band surge na faixa “Minarets”. Aqui encontramos algumas referências a ambientes orientais, quer nas escalas usadas por Leroi bem como no canto melismático de Dave Matthews. Para os conhecedores da banda com certeza que reconhecem estas características em faixas como “Bartender” , “The last Stop”, a introdução de “What You Are” ao vivo ou mais recentemente em “Squirm”.
“Seek Up” é a outra faixa que foi gravada em estúdio. Aqui encontramos uma produção muito minuciosa e cheia de pormenores (especialmente no que diz respeito ao tratamento da percussão de Carter, bem como no saxofone de Leroi). No que diz respeito à letra, Dave Matthews bombardeia-nos com um testamento confuso mas pessoal... é como se fosse uma série de impressões simultâneas passadas directamente para a música, sem qualquer filtração. Este é um dos vários exemplos da carreira da banda onde o verso segue uma linha melódica tendencialmente obscura e quase monocórdica, contrastando com um refrão muito mais luminoso e “cantabile” como se diz na gíria musicológica. Outro exemplo de uma situação destas seria o contraste existente entre o verso e refrão de “The Space Between”, lançado no álbum “Everyday” (disponível na parte 5).
As faixas “Ants Marching” e “Sattelite” serão devidamente desenvolvidas quando fizer comentário a “Under The Table And Dreaming” (Parte 2); A faixa "Tripping Billies" será analisada quando fizer comentário ao album "Crash" (parte 3)
Queria agora aprofundar aquelas que considero as duas pérolas deste grupo de canções: “I´ll Back You Up” e “Christmas Song”, primeiro porque são as únicas versões de “estúdio” (embora em poucos takes) que conhecemos destas faixas; segundo porque estas são as primeiras gravações oficiais da colaboração entre Dave Matthews e Tim Reynolds. Antes de mais é necessário explicar o processo performativo desta dupla: normalmente consiste na execução dos acordes tectónicos da canção por Dave Matthews enquanto Tim Reynolds executa uma serie de variações desses mesmos acordes, adicionando por vezes uma serie de contra cantos (espécie de pequenos solos que surgem após um verso cantado por Dave Matthews ou como resposta ao mesmo). Em registos posteriores (“Live At Luther College” ou “Live At Radio City Music Hall”) a guitarra de Tim surge enredada de efeitos, executados manualmente (através por exemplo da técnica de slide) ou através do uso de processador de efeitos.
Feita esta pequena contextualização técnica passemos às duas derradeiras faixas deste álbum. “Ill back you up” é das mais interessantes contribuições líricas de Dave Matthews neste álbum, cuja temática gira em torno de uma declaração de incondicional amor do sujeito poético para a sua amada.
Apesar da harmonia ser tendencialmente simples (circula entre os graus I IV V I) é a forma como o Dave canta que lhe dá o toque especial. O uso do falsetto é sem dúvida um dos paradigmas característicos do uso da voz em Dave Matthews, cuja marca surge em gravações tão precoces como esta. Numa intervista Dave chegou a referir que esta faixa foi gravada em condições tão modestas que nos múltiplos takes podiam-se ouvir descargas sanitárias da casa de banho ao lado; segundo Matthews, a versão final incluída no álbum é a única em que não se ouvem “flushing sounds in it”.
“The Christmas Song” foge tangencialmente a uma noção de canção tradicional de Natal. A letra descreve de modo muito pessoal a vida de Jesus, numa visão quase caricata porém sempre com muito “...love, love, love”. Em termos musicais temos um arranjo tendencialmente simples e intimo, no sentido em que o acompanhamento é reduzido ao essencial.
Como conclusão é interessante referir que a capa do disco é um estereograma que quando focado correctamente mostra uma pessoa a fazer o sinal de paz com os dedos da sua mão. A capa foi feita por estudantes de Charlottesville amigos da banda,: Rick Kwiatkowski e Jeff Smith. As duas coisas referidas no título são "love your mother" e "leave only footprints.
Após alguns anos a promover o seu trabalho, a banda finalmente conseguiu o contrato discográfico de larga escala que tanto ansiava. Em 1994 o grupo assinou com a RCA e lançou o seu primeiro álbum: “Under The Table And Dreaming”.
CONTINUA NA PARTE 2
Todos nós falamos imenso de Dave Matthews Band como a nossa banda preferida, porém quando tentamos perceber a razão dessa escolha ficamos um pouco confusos e não sabemos explicar racionalmente porque é que gostamos da sua música, mais do que a de outra banda qualquer. Qual será a razão? Será da banda em si? Será a voz do David? Será devido a uma pseudo sonoridade peculiar? Se sim, como definir essa sonoridade?
Em busca de respostas decidi iniciar uma viagem pela carreira do grupo e fazer esta discografia comentada em 8 partes (uma para cada álbum da banda) de modo a poder chegar a conclusões no fim desta viagem. Este trabalho conta com o vosso contributo, através de comentários, preenchimento de algumas lacunas ou até mesmo para podermos refazer e formular um documento único que possa ser editado num futuro site de fãs português… quem sabe?
Em cada uma das partes adicionarei uma poll para podermos votar nas faixas preferidas do álbum em discussão.
REMEMBER TWO THINGS
Editado: 1993
Tempo total: 55:12
Editora: Bama Rags (1993-1997)
Relançada em 1997 pela RCA
Produtor: John Alagía
Faixas:
1. "Ants Marching" (ao vivo) — 6:08
2. "Tripping Billies" (ao vivo) — 4:49
3. "Recently" (ao vivo) — 8:42
4. "Satellite" (ao vivo) — 5:01
5. "One Sweet World" (ao vivo) — 5:18
6. "The Song That Jane Likes" (ao vivo) — 3:33
7. "Minarets" — 4:22
8. "Seek Up" — 7:20
9. "I'll Back You Up" (ao vivo acústico) — 4:26
10. "Christmas Song" (ao vivo acústico) — 5:34
Gravado em:
* Trax
Charlottesville, Virginia
* Flood Zone
Richmond, Virginia
* The Muse
Nantucket, Massachusetts
* Flat Five Studios
Salem, Virginia
“Remember two things” é um dos primeiros registos oficiais de Dave Matthews Band e serve como uma introdução perfeita a toda uma carreira que dura dezasseis anos (2009). Este trabalho de baixo custo foi lançado por uma editora independente e inclui duas faixas gravadas em estúdio com a banda completa; faixas gravadas ao vivo; bem como faixas acústicas tocadas por Dave Matthews com o seu amigo Tim Reynolds. Deste modo é curioso notar que nestes 55 minutos de música temos o prólogo perfeito para as várias facetas da carreira de Dave Matthews e a sua banda, contando actualmente com 8 álbuns de estúdio, incontáveis gravações ao vivo com a banda bem como em dueto com o seu amigo Tim Reynolds.
Não me vou desdobrar em descrições exaustivas sobre todas as músicas, primeiro porque muitas delas foram editadas posteriormente em álbuns de estúdio, depois porque sendo na sua maioria uma gravação ao vivo (8 das 10 faixas) não poderei desenvolver questões de produção. Por outro lado considero essencial constatar que desde o inicio este grupo tem como principal alicerce a performance ao vivo e isso é bem visível na qualidade patente neste disco. Muitas destas actuações ao vivo apresentam versões embrionárias de canções que posteriormente se tornaram autênticos hinos da banda. Outras faixas surgem já no formato em que ficaram conhecidas, como o exemplo de “Tripping Billies” que apesar de só ser lançada no segundo álbum da banda “Crash”, é apresentada aqui quase igual à “versão final” de estúdio (com aspas porque as canções de Dave Matthews Band estão em constante mutação em performances ao vivo, ou seja a ideia de uma “versão final” quase nunca se concretiza).
“Recently” é uma faixa muito interessante que acabou por ser gravada no EP homónimo lançado no ano seguinte. Aqui encontramos uma das características predominantes da composição da banda - o famoso pizzicato no violino de Boyd Tinsley (técnica de tocar com os dedos nas cordas do violino e cujo resultado sonoro consiste num beliscar momentâneo de uma nota, sem que esta se prolongue). Posteriormente esta característica se torna dominante em faixas como “Warehouse” ou “American Baby”.
As faixas "One Sweet World" e "The Song That Jane Likes" são outras constantes nos concertos da banda, apesar de não serem das mais interessantes no contexto deste primeiro registo (mas continuo a achar que Jane, irmã de Dave Matthews tem bom gosto).
Uma outra característica interessante da composição de Dave Matthews Band surge na faixa “Minarets”. Aqui encontramos algumas referências a ambientes orientais, quer nas escalas usadas por Leroi bem como no canto melismático de Dave Matthews. Para os conhecedores da banda com certeza que reconhecem estas características em faixas como “Bartender” , “The last Stop”, a introdução de “What You Are” ao vivo ou mais recentemente em “Squirm”.
“Seek Up” é a outra faixa que foi gravada em estúdio. Aqui encontramos uma produção muito minuciosa e cheia de pormenores (especialmente no que diz respeito ao tratamento da percussão de Carter, bem como no saxofone de Leroi). No que diz respeito à letra, Dave Matthews bombardeia-nos com um testamento confuso mas pessoal... é como se fosse uma série de impressões simultâneas passadas directamente para a música, sem qualquer filtração. Este é um dos vários exemplos da carreira da banda onde o verso segue uma linha melódica tendencialmente obscura e quase monocórdica, contrastando com um refrão muito mais luminoso e “cantabile” como se diz na gíria musicológica. Outro exemplo de uma situação destas seria o contraste existente entre o verso e refrão de “The Space Between”, lançado no álbum “Everyday” (disponível na parte 5).
As faixas “Ants Marching” e “Sattelite” serão devidamente desenvolvidas quando fizer comentário a “Under The Table And Dreaming” (Parte 2); A faixa "Tripping Billies" será analisada quando fizer comentário ao album "Crash" (parte 3)
Queria agora aprofundar aquelas que considero as duas pérolas deste grupo de canções: “I´ll Back You Up” e “Christmas Song”, primeiro porque são as únicas versões de “estúdio” (embora em poucos takes) que conhecemos destas faixas; segundo porque estas são as primeiras gravações oficiais da colaboração entre Dave Matthews e Tim Reynolds. Antes de mais é necessário explicar o processo performativo desta dupla: normalmente consiste na execução dos acordes tectónicos da canção por Dave Matthews enquanto Tim Reynolds executa uma serie de variações desses mesmos acordes, adicionando por vezes uma serie de contra cantos (espécie de pequenos solos que surgem após um verso cantado por Dave Matthews ou como resposta ao mesmo). Em registos posteriores (“Live At Luther College” ou “Live At Radio City Music Hall”) a guitarra de Tim surge enredada de efeitos, executados manualmente (através por exemplo da técnica de slide) ou através do uso de processador de efeitos.
Feita esta pequena contextualização técnica passemos às duas derradeiras faixas deste álbum. “Ill back you up” é das mais interessantes contribuições líricas de Dave Matthews neste álbum, cuja temática gira em torno de uma declaração de incondicional amor do sujeito poético para a sua amada.
(…)
And your lips burn wild
Thrown from the face of a child
And in your eyes
The seeing of the greatest few
Do what you will, always
Walk where you like, your steps
Do as you please, Ill back you up
Apesar da harmonia ser tendencialmente simples (circula entre os graus I IV V I) é a forma como o Dave canta que lhe dá o toque especial. O uso do falsetto é sem dúvida um dos paradigmas característicos do uso da voz em Dave Matthews, cuja marca surge em gravações tão precoces como esta. Numa intervista Dave chegou a referir que esta faixa foi gravada em condições tão modestas que nos múltiplos takes podiam-se ouvir descargas sanitárias da casa de banho ao lado; segundo Matthews, a versão final incluída no álbum é a única em que não se ouvem “flushing sounds in it”.
“The Christmas Song” foge tangencialmente a uma noção de canção tradicional de Natal. A letra descreve de modo muito pessoal a vida de Jesus, numa visão quase caricata porém sempre com muito “...love, love, love”. Em termos musicais temos um arranjo tendencialmente simples e intimo, no sentido em que o acompanhamento é reduzido ao essencial.
Como conclusão é interessante referir que a capa do disco é um estereograma que quando focado correctamente mostra uma pessoa a fazer o sinal de paz com os dedos da sua mão. A capa foi feita por estudantes de Charlottesville amigos da banda,: Rick Kwiatkowski e Jeff Smith. As duas coisas referidas no título são "love your mother" e "leave only footprints.
Após alguns anos a promover o seu trabalho, a banda finalmente conseguiu o contrato discográfico de larga escala que tanto ansiava. Em 1994 o grupo assinou com a RCA e lançou o seu primeiro álbum: “Under The Table And Dreaming”.
CONTINUA NA PARTE 2